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CHAVES, Trás-os-Montes, Portugal
Sou aquela que vez, que julgas, que chamas, que ouves (por muito que às vezes te custe),que te compreende e repreende quando necessário, que te intimida e também te alenta, te conforta, te reanima, te respalda a alma, aquela que te ama, te sorri, aquela que te ressurge todos os dias e te diz: "continua a viver"... Para todos aqueles que se acham merecedores...

domingo, fevereiro 20, 2011

Poema dirigido a Salazar - vale a pena ler













"Nunca precisámos de outra coisa!" FOI FEITO EM 1934.

Conta-se que este poema foi dirigido ao Ministro da Agricultura do governo de Salazar, como forma de pedir adubos. Por mais estranho que pareça, o senhor que o escreveu não foi preso e Salazar até se fartou de rir (??!!!) quando o leu:



- E X P O S I Ç Ã O -


Porque julgamos digna de registo

a nossa exposição, senhor Ministro,

erguemos até vós, humildemente,

uma toada uníssona e plangente

em que evitámos o menor deslize

e em que damos razão da nossa crise.


Senhor: Em vão, esta província inteira,

desmoita, lavra, atalha a sementeira,

suando até à fralda da camisa.

Falta a matéria orgânica precisa

na terra, que é delgada e sempre fraca!

- A matéria, em questão, chama-se caca.


Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.


Se os membros desse ilustre ministério

querem tomar o nosso caso a sério,

se é nobre o sentimento que os anima,

mandem cagar-nos toda a gente em cima

dos maninhos torrões de cada herdade.

E mijem-nos, também, por caridade!


O senhor Oliveira Salazar

quando tiver vontade de cagar

venha até nós solícito, calado,

busque um terreno que estiver lavrado,

deite as calças abaixo com sossego,

ajeite o cú bem apontado ao rego,

e... como Presidente do Conselho,

queira espremer-se até ficar vermelho!


A Nação confiou-lhe os seus destinos?...

Então, comprima, aperte os intestinos;

se lhe escapar um traque, não se importe,

... quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?

Quantos porão as suas esperanças

n'um traque do Ministro das Finanças?...

E quem vier aflito, sem recursos,

Já não distingue os traques dos discursos.


Não precisa falar! Tenha a certeza

que a nossa maior fonte de riqueza,

desde as grandes herdades às courelas,

provém da merda que juntarmos n'elas.


Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.


Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...

Tragam-nos merda pura, do bispote!

E todos os penicos portugueses

durante, pelo menos uns seis meses,

sobre o montado, sobre a terra campa,

continuamente nos despejem trampa!


Terras alentejanas, terras nuas;

desespero de arados e charruas,

quem as compra ou arrenda ou quem as herda s

ente a paixão nostálgica da merda...


Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.


Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa

das inúteis retretes de Lisboa!...

Como é triste saber que todos vós

Andais cagando sem pensar em nós!


Se querem fomentar a agricultura

mandem vir muita gente com soltura.

Nós daremos o trigo em larga escala,

pois até nos faz conta a merda rala.


Venham todas as merdas à vontade,

não faremos questão da qualidade.

Formas normais ou formas esquisitas!

E, desde o cagalhão às caganitas,

desde a pequena poia à grande bosta,

de tudo o que vier, a gente gosta.


Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.



Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do Alentejo


Évora, 13 de Fevereiro de 1934


O Presidente,

D. Tancredo (O Lavrador)

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